Baixos salários e falta de uma política adequada contribuiram para o fraco desempenho
Rio - O resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2010, divulgado na segunda-feira pelo Ministério da Educação (MEC), veio confirmar o que a maioria dos educadores alerta há alguns anos: falta investimento na rede pública de Educação.
Este fraco desempenho, em comparação às escolas particulares, foi reconhecido pelo próprio ministro da Educação, Fernando Haddad, que não descarta tornar o exame obrigatório. Seria uma maneira de oferecer aos alunos das escolas públicas um ensino de qualidade. Obrigatoriedade do exame pode ajudar na qualidade do ensino público.
Para o professor Alex Mendes,da faculdade da Academia Brasileira de Educação e Cultura (FABEC), a situação merece atenção total por parte das autoridades.
"O Enem só confirma aquilo que educadores já percebem há muito tempo: o desempenho dos alunos das escolas públicas está muito aquém daquelas da rede privada, e o mais trágico disto tudo é que nossas escolas privadas ainda estão muito distantes do padrão internacional de qualidade de ensino. Isso só demonstra que há muito o que fazer em termos de política educacional", afirma o educador.
Segundo Mendes, a comparação entre o ensino público e o privado pode não ser justa. No entanto, é necessária. "Para o Brasil ascender ao papel de potência mundial, com melhoria da competitividade o caminho será sempre o da educação. Aliás o IPEA (Instituto de pesquisa econômica aplicada) revela, em estudo recente, que para cada ano de escolaridade aumenta a renda em 15% quando adulto. Ocorre que nossa média de escolaridade é de 7 anos, dois anos atrás da Argentina. Poderíamos pensar que é pouco, mas diante dos dados do IBGE de que o Brasil só aumenta 1 ano de escolaridade por década, estamos no mínimo 2 décadas atrás de nossos vizinhos", revela.
A solução, segundo o professor, não implica vultosos investimentos, mas em cinco atitudes simples."Professores bem formados, com plano adequado de carreira, valorizados socialmente e com uma boa remuneração para atrair os melhores cérebros. Escolas com infraestrutura; comprometimento da família; comprometimento do aluno e comprometimento dos governantes com uma política de Estado (ampliação da carga horária escolar, competência na aplicação da verba destinada à educação, profissionalização da gestão educacional)", garante.
Metas
Na avaliação de Alex Mendes, quando o governo afirma que os resultados estavam dentro do esperado, está apenas ratificando o óbvio. "Se almejamos a excelência, os parâmetros do governo são pífios. No sistema federativo brasileiro, a responsabilidade pelo Ensino Fundamental é dos municípios e do Ensino Médio dos Estados, sobre os quais o poder federal não tem ingerência direta. O que reforça a necessidade de índices que possam mostrar para a sociedade o que seus governantes fazem pela melhoria da educação", diz o professor.
Os baixos salários pagos aos professores da rede pública são desestimulantes.Após mais de 60 dias de greve, os docentes estaduais passaram a receber pouco mais de R$ 800 por uma jornada de 18 horas. Com um salário como este, aqueles que se interessam pelo magistério logo desistem e aqueles que permanecem não conseguem fazer reciclagem nem se dedicarem a uma só escola; eles necessitam trabalhar em outras escolas para simplesmente poderem sobreviver.
Quando eu era criança, entrávamos para a escola aos seis anos na classe de alfabetização, aos sete começávamos o 1º ano (totalmente alfabetizados); aos dez concluíamos o primário. Em seguida fazíamos o admissão, que era um preparatório, para entrarmos no ginásio dos Colégios Estaduais ou do Pedro II. Após quatro anos escolhíamos: científico, clássico, secretariado ou contabilidade. Tudo isso em escolas públicas de qualidade. O que mudou?
Muita coisa mudou. As professoras primárias eram muito bem preparadas e ganhavam igual a um general. As famílias eram presentes e participativas. Os alunos tinham limites e sabiam que "só poderiam melhorar de vida estudando". Nossos paradigmas eram sólidos e absolutamente morais. Pedagogicamente todos (escola, aluno e professor) tinham o mesmo objetivo: o aluno deveria terminar os estudos preparado para um vestibular ou para a vida profissional (secretariado e contabilidade).
Não adianta aumentar a carga horária de 200 para 220 dias como agora quer o Ministro da Educação.
Como os tempos mudaram, hoje as mães trabalham para ajudar na renda familiar ou em muitos casos exercem o papel de pai e mãe, por isso não podem acompanhar seus filhos. Também temos o fato de muitas famílias serem despreparadas. Por tanto precisamos de professores bem preparados, salários dignos, horário integral e conscientizar oS educandoS de que estudar e se formar transformará as suas vidas.
Professora, Pedagoga e Contabilista
MARIZA NOBRE
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